segunda-feira, 16 de abril de 2012

Músico mendigo


Ser músico é uma benção. É uma dádiva divina.
O simples prazer de poder transformar em melodias e harmonias um sentimento seu, já faz de você alguém especial.
Toda arte tem a sua beleza, mas a música exerce um fascínio diferenciado. A música consegue ser atraente, apaixonante, provocante, reflexiva, arrebatadora e em muitos casos, até mesmo revolucionária.

Embora todas essas verdades e muitas outras possam ser ditas sobre a música, existe uma questão que nunca se cala: o músico, embora seja visto com admiração, é tratado como um mendigo.

Forte isso, não?
Pensa numa coisa. Os que conseguem destaque são uma minoria, e quando digo que são uma minoria, isso quer dizer que são muito menos do que o pouco que você imagina!
O que existe de músico num país como o Brasil, não é brincadeira. Brinco que existem os profissionais (que vivem da música), os amadores (que não vivem da música, mas amam a música além do hobby), e os gostadores (que gostam da música e muitas vezes se arriscam a tocar como hobby).
Mas vamos falar dos profissionais. Tem muito músico bom em nosso país.
Talvez, você nunca vai ouvir falar de alguns, mas pode acreditar numa coisa, um músico sensacional vive muito perto de você.

Assim como em todas as profissões, existem panelas montadas onde somente os incluídos conseguem espaço. Eu mesmo já estive envolvido em gravações onde "olharam torto" para mim porque eu estava "furando a panela dos amigos". Não sejamos hipócritas, isso existe.
Independente disso, acho triste a maneira como bons músicos são tratados. Ganham pouco, trabalham muito, divulgam-se sozinhos e quando ousam conseguir alguma coisa maior, são obrigados a se desdobrar para fazer dar certo (ainda assim, correndo o risco de serem "esquecidos" ou deixados como "plano B"). Ou seja, enganar um músico já virou algo comum em nosso país.

O músico brasileiro é tratado como um mendigo que depende de migalhas, moedas e mixarias para conseguir sobreviver.
Sempre tem alguém que adora o trabalho de um músico, mas muitas vezes, esse mesmo alguém também é o responsável por "passar a perna" no cara. Não significa que tudo tem que ser na base da camaradagem, afinal, negócios são negócios. Mas no meio musical, e na maneira como contratam um músico faltam duas coisas: honestidade e respeito.

Sempre observo uma quantidade imensa de jovens guitarristas que se matam na esperança de conseguir endorse de alguma marca. Na ânsia de serem reconhecidos, acabam fechando contrato com cada marca "peba" que produz uns intrumentos ruins, achando que fizeram um bom negócio. (Obs: "fechando contrato" é um modo fictício para dizer que o cara "ganhou" uma guitarra, onde ele teve que pagar 70% do valor para divulgar a empresa, no sonho de que seria ele o divulgado)
Esse é um claro exemplo de quem vive de migalhas!
Não sou contra endorse, de maneira alguma. Acho sensacional o cara conseguir isso, a única coisa que não pode funcionar como moeda de troca é o seu caráter e o seu nome. Mais do que conseguir uma "divulgação fictícia" do seu trabalho (embora existam os que fazem um trabalho sério) , o importante é ter personalidade e caráter.

Conheço diversas histórias de músicos que já tocaram em restaurante para ganhar comida. E se você acha que isso é mentira, deveria sair um pouquinho fora do Estado de São Paulo e conhecer a realidade de outros lugares.
Nada, abolutamente nada paga a nossa dignidade. Mas por muitas vezes, são os próprios músicos quem colocam a dignidade de todos os outros em jogo.

Se o respeito não vem da parte dos outros, pelo menos que venha dos próprios músicos. Seria muito melhor assegurarmos o respeito de nossa arte do que trabalharmos como prostitutas musicais.
Se um dia esse tratamento com o músico vai mudar é difícil dizer. Mas que podemos fazer valer um pouco mais o nosso valor próprio, não dizendo "sim" para tudo, com certeza podemos.

3 comentários:

  1. ótimo texto! simplesmente não há o que comentar da realidade nua e crua dos musicos e, mais além, do ramos artístico inteiro brasileiro.

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  2. Caraca! Parece até que eu mesma quem desabafei. Você disse tudo que venho dizendo a tempos pra meio mundo, Rick. Eu amo música, amo fazer música, já sofri e ainda sofro disso tudo. Me vi nesse texto! Sério!

    Ps.: Eu fui no Acampamento Shekinah em Mogi Guaçu/SP, que aliás foi uma benção né. Ah! Estou viciada em Tehilim. Agora já era rsrsrs.

    Fique com Deus. Beijos.

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  3. Achei demais, e publiquei aqui http://kalilbentes.blogspot.com.br/2012/05/musico-mendigo-por-cesar-ricky-mendes.html?spref=fb com sua permissão! Mais uma vez, obrigado por falar em nosso nome, os músicos! Abraço!

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